Jovens Bruxas – A Nova Irmandade

Eis que no mundo de refilmagens, chega um sopro de ar fresco trazendo um pouco de Magia para as telas. A Sony nos trás um legado com seu novo lançamento “Jovens Bruxas – A Nova Irmandade”, para um mundo que precisa de renovação. Bruxaria ou Sorte?!

“Jovens Bruxas – A Nova Irmandade”, é a continuação do filme “Jovens Bruxas” de 1996. São 24 anos entre os dois filmes, o que trás problemas para a versão nova: como atingir aqueles que nunca viram o original e que são o público alvo do novo, e como agradar aqueles que assistiram ao anterior? O trabalho ficou para a diretora e também roterista, Zoe Lister-Jones, que está migrando para atrás das câmeras. Zoe disse que decidiu trazer muito de sua experiência quando adolescente para criar a nova versão. Acho que isso inclusive contribuiu positivamente para termos a sensação de que o novo Coven de Lily (Cailee Spaeny), Lourdes (Zoey Luna), Frankie (Gideon Adlon) e Tabby (Lovie Simone) pareça mais jovem e leve, do que o Coven antigo, além de claro ajudar o público pré e adolescente a se identificarem com as novas bruxinhas.

Antes mesmo de ver o filme, li várias reclamações sobre o mesmo não ser uma continuação de verdade do outro ou que demora para conectar uma história com a outra. Enfim, foram várias críticas sobre não ser uma continuação direta e sim uma história que é passada mais de 2 décadas depois. E honestamente, EU não senti falta dessa ligação que tanto criticaram. Quando assisti o primeiro filme, ele me marcou muito, e  não consegui não acreditar que o novo não copiaria o original. E não copia, é uma homenagem, um espelho de vários momentos do antigo, em cenas que não são iguais mas fazem um paralelo da história de Sarah de 96 com a história de Lily. Alguns momentos icônicos como uma cena de levitação, e outra com borboletas, estão presentes em ambos filmes. E nem vamos falar do momento pré créditos onde o trio Lourdes, Frankie e Tabby reclamam da falta de uma quarta e da releitura da abertura com os símbolos de Neo Paganismo até a cópia fiel da cena das nuvens (que é brega em ambos), mas tudo está ali. Se você conhece o antigo, não tem como não identificar esses momentos no novo.

Em Nova Irmandade, Lily, a 4a integrante que faltava para o Coven ficar completo, se muda com Helen (sua mãe interpretada por Michelle Monaghan) para a casa de Adam (David Duchovny, que poderia ter um spin off só seu). E aí que está um assunto importante e que torna o filme atual. Adam tem três filhos homens: Isaiah, o mais velho, Jacob, com a mesma idade de Lily, e o caçula Abe (provavelmente um apelido para Abraão), todos nomes do antigo Testamento e de Patriarcas que tiveram importância nas religiões monoteístas. Além disso, Adam é um escritor e uma espécie de guru de auto ajuda mas com uma finalidade bem específica, curar a fraqueza dos homens modernos e fazê-los recuperarem seu dominância. Ou seja, tudo contra o que o feminismo vem lutando e muito do que o Neo-Paganismo Moderno tenta ir contra.

As questões levantadas na continuação são diferentes das do primeiro, mas o mundo mudou e essa geração trás questões como bissexualidade, ou dúvidas sobre a sexualidade, que são importantes de serem discutidas e parabéns para Zoe por trazer o assunto à tona. Aliás a diretora conta que quando tinha uns 13 anos raspou a cabeça e usou ternos masculinos e muitas vezes era confundida com um menino. Entretanto assim como no primeiro filme, esse falha em falar sobre a questão ainda existente do Racismo. Aliás ouso dizer que se em algum momento Tabby sofreu alguma agressão do tipo, ficou infelizmente ainda menor do que Rochelle (Rachel True) sofreu em 1996. Falha grave para o filme que tenta mostrar que o que importa hoje é autoaceitação, e não apenas como os outros lhe vêem.

Quem espera sustos e um filme sombrio, vai se decepcionar. Em Nova Irmandade, a Bruxaria já é aceita e não é mais um tabu. O que importa aqui é estar ao lado de suas amigas e protegê-las do ambiente causado pela masculinidade tóxica, representada por Adam e seus dois filhos mais velhos. O filme é mais claro e a mágica aqui é algo bom, estranho para um filme da Blumhouse, mas essa leveza e até os efeitos especiais, também criticados por alguns, trazem uma familiaridade necessária para o público mais jovem conectado em redes cheias de filtros que transformam a realidade em magia. E em alguns momentos a diretora opta pela nostalgia dando ao filme um ar de filme família anos 90, necessário para o público de Jovens Bruxas original se sentir confortável. Afinal a maioria das mulheres que viram o filme no cinema em 1996 são quarentonas e a maioria já mães.

Não preciso dizer que se você espera encontrar uma versão apenas com efeitos melhores que a versão de 1996, vai se decepcionar feio. Entretanto se sua mente estiver aberta para uma nova história, pode ter uma surpresa agradável. Uma continuação nunca será igual a sua versão original, mas em nenhum momento isso é proposto. Portanto abra seu coração para a “donzela”, termo usado em Wicca para menina nova, e aprecie o filme pela ousadia de tratar de assuntos complexos. Aproveite a excelente trilha sonora e um filme que trará saudades de quando o mundo era mais simples.

Beijos e “Blessed be”! 😉

PS: Blessed Be – é uma expressão usada por pessoas que estudam Wicca e outros tipos de Neo Paganismo. Acredito que não seja usada a tradução para o português da mesma, para evitar a comparação com o Cristianismo que também se utiliza da palavra “Abençoado seja”.

Por fim, se quiserem saber mais alguma informação sobre o Neo Paganismo e Wicca, perguntem!!! Terei o maior prazer em responder! Aliás não deixem de comentar sempre, a opinião de vocês é fundamental para a melhora do nosso espaço. Afinal é um espaço criado para vocês!

Para alguns tipos de Paganismo, uma mulher tem três fases na vida: Donzela, Mãe e Matrona. Ligadas as fases reprodutivas de uma mulher de antigamente, onde poucas chegavam muito além da menopausa. Os termos são obviamente ligadas ao período pré-menarca onde a “Donzela” é virgem e não pode conceber filhos, sua fase casada e onde deve gerar frutos e herdeiros para o marido, e a “matrona”, normalmente usam outros termos mais depreciativos, quando seu útero é seco e ela se torna “inútil”. Acho triste que em plena Segunda Onda do Feminismo, que é  mais ou menos quando o Neo Paganismo e a Wicca surgiram, já nos anos 60, ainda se julgasse as mulheres apenas pela sua importância reprodutiva.

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