Convenção das Bruxas 2020

Acreditem se quiser mas eu nunca vi o filme original de 1990. E, como tudo na vida, existe uma vantagem e uma desvantagem, especialmente quando se trata de uma refilmagem do que é considerado um clássico. Não comparar e basear minha opinião apenas no emocional, para mim é uma vantagem. Por outro lado eu não sei qual dos charmes do original, que conquistou muitos fãs, além de assustar muitas crianças se perdeu ou se manteve. Mas acho que alguns tiveram a mesma reação de saudosismo que as adaptações cinematográficas de outro livro de Roald Dahl – Charlie e A Fantástica Fábrica de Chocolate. Só que a verdade é que a vida adulta faz com que a gente perca um pouco da abertura para a magia e encanto que temos ou tivemos quando assistimos as versões originais. E é por isso que eu acho que o filme “Convenção das Bruxas” de 2020, deve ser julgado sem ser comparado com sua versão de 1990.

Antes de escrever qualquer texto, gosto de estudar sobre o material e as polêmicas para abrir espaço aqui para as discussões. E eis que ao pesquisar o autor do livro “As Bruxas”, de 1983, descobri fatos interessantes sobre Roald Dahl, considerado herói na 2a guerra, na qual lutou pelos britânicos, e que foi enviado aos EUA logo após o final desta para ser embaixador. Entretanto, Dahl que escreveu alguns dos livros infantis mais icônicos, é visto por muitos como anti-semita, racista, sádico e misógino. É difícil saber se todos esses fatos são reais hoje, mas apesar de tudo, desde seu primeiro livro infantil – Gremlins de 1943 – aparecem traços de uma criança sofrida e que passa por situações horríveis. Provavelmente, Dahl trouxe isso do fato de ser filho de imigrantes (seus pais eram noruegueses), do tratamento que sofreu nos colégios internos britânicos, nas suas experiências durante a Guerra e até em ver a diferença gritante entre a fartura americana pós-guerra e a fome que a Inglaterra experimentou. Tudo isso marca a vida de uma pessoa e talvez seja o fato dele conseguir transformar os horrores reais que experimentou em histórias mágicas, apesar de horripilantes, que o tornou um autor de sucesso.

Alguns nomes impressionam em “Convenção das Bruxas” Anne Hathaway como a Grand High Witch, Octavia Spencer como a avó, Guillermo del Toro roterista e produtor e Alfonso Cuarón como produtor, todos já premiados com Oscars. No caso de Del Toro e Cuarón, criadores nada convencionais para suas histórias. Aliás eu enxerguei muito de “O Labirinto do Fauno” filme de Del Toro na criação das Bruxas. Elas incomodam, são pouco convencionais mas são menos assustadoras do que creio que a primeira versão do filme. O filme foi elogiado por não colocar as Bruxas como mulheres sedutoras e mais como seres demoníacos, além de se ater a um final mais tradicional do livro.

A personagem de Hathaway, magnífica em todas as cenas com figurinos deslumbrantes, me pareceu muito inspirada na Bruxa do Gelo do conto de fadas de Hans Andersen – aliás me parece que o próprio Dahl se inspira em Andersen escrevendo o que seriam contos de “fadas” modernos. Com sotaque perfeito e trejeitos expressivos, Anne transforma sua “Grande Bruxa Suprema” (tradução livre) em uma personagem que critica a ganância dos seres humanos que só querem dinheiro. Seu desprezo pela humanidade em geral, não só pelas crianças, fica óbvio em como ela trata o gerente do hotel (o brilhante Stanley Tucci). Por outro lado, temos Octavia Spencer como a Avó, uma personagem que é desprendida dos bens materiais, acolhedora, capaz de aceitar e mostrar as crianças que AMOR E RESPEITO, são fundamentais para se viver bem.

Algumas mudanças, que podem não parecer importantes aos olhos de quem está buscando o filme original são muito importantes e interessantes. A história se passa em 1968 em uma cidade do Alabama no sul dos EUA, estado que 5 anos antes prendeu Martin Luther King. Entretanto é nesse lugar que sempre sofreu com as questões raciais americanas, que Octavia Spencer, uma mulher afro-americana, é a heroína da história. E mais, em um determinado momento, seu neto, interpretado pelo expressivo Jahzir Bruno, diz que a avó é mais que apenas uma Curandeira e a chama de Sacerdotisa Vudu, o que quebra um pouco do preconceito contra uma religião politeísta, praticada em parte do  Sul dos EUA, e no Caribe. Indo além, em determinado momento podemos ver o estranhamento de um funcionário do Hotel onde Octavia e Jahzir se hospedam, mas de forma sutil. Ou seja parabéns para os escritores que souberam colocar o momento histórico americano de forma delicada mas importante para que as crianças que assistam o filme compreendam.

Com uma trilha sonora impecável, eu achei o filme bem interessante, especialmente após descobrir tanta informação sobre as mudanças, que o tornaram muito mais atual e importante, do que somente assustador. Levaria um criança, entre 8/10 anos para assisti-lo, aí também depende de ser uma criança mais impressionável ou não. Agora, eu não levaria um adulto que quer ver uma cópia da versão de 1990, pois tenho certeza que esses não vão se agradar de mudarem “a infância deles”. Então se nós formos com um pensamento de que essa versão é feita para agradar as crianças de agora, e não apenas os fãs do original, tenho certeza que você poderá ver que os novos tempos são de aceitação.

Não deixe de dar sua opinião! Se você assistiu original conte aqui o que espera dessa versão, e quem viu as duas diga o que gostou e não gostou. Só não pode criticar as roupas de Anne que são todas maravilhosas! Brincadeira, é que eu sou formada em Moda e estudei criação de figurino. 😉 E não deixe de nos seguir também no nosso Instagram onde temos mais notícias de séries e filmes para vocês.

 

Beijos,

Sil

PS: Nós somos partidários de tomar conta não só de si, mas também do próximo. Se tomar a decisão de ir ao cinema, procure saber as regras de segurança e não tenha medo de perguntar sobre qualquer dúvida. E cuide não só de sim, mas do próximo, USE MÁSCARA, se proteja e proteja o próximo! Especialmente no momento delicado que estamos vivendo onde o número de casos entre crianças está aumentando. Seja responsável! Se cuide e se informe sobre as condições do ambiente que está frequentando antes. Assim nós evitaremos que os casos aumentem e que os cinemas tenham que fechar novamente. Cuide de quem e daquilo que você ama!

 

 

3 comentários

  1. Como uma pessoa que se assustou com Anjelica Huston no primeiro (eu realmente tive pesadelos com ela), eu estou um pouco cética com relação ao desempenho da Anne Hathaway, apesar de amá-la. É esperar para ver!

  2. Já anotei para vê-lo …não vi o primeiro…mas como uma criança de 78 anos, gostei da ideia “dos novos tempos de aceitação” ,algo que tanto precisamos atualmente…meus parabéns pelo seu comentário, claro e preciso

  3. Não vi o primeiro filé nem li o livro
    Gostaria de visto, porque vc despertou meu interesse
    Sua crônica sobre o filme está perfeita
    Mostra muito mais do que contar as cenas do filme e criticar as atuações
    Vc fala tb do “atrás das câmeras” o que acho muito interessante
    Não é só uma crítica sobre o filme, mas realmente uma crônica sobre cinema em geral

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