Mães de Verdade

O filme escolhido para abrir a cobertura da 44ª Mostra Internacional de São Paulo, foi o “Mães de Verdade” (True Mothers) que também foi selecionado para grandes Festivais Internacionais como Cannes e o Tiff, em Toronto.

Dirigido pela japonesa Naomi Kawase e baseado no livro “Asa ga Kuru” (Comes Morning ou em tradução literal A Manhã Chega) escrito por Mizuki Tsujimura, conta não só a história ficcional de um casal infértil que decide adotar uma criança, mas mostra as fortes influências culturais sobre os costumes no Japão.

Satoko e Kiyokazu, decidem adotar através da agência Baby Baton, que vêem em um anúncio na Televisão. A Agência ajuda a moças que não podem cuidar de seus filhos a achar casais que não podem ter. Do outro lado, a jovem de 14 anos Hikari dá a luz ao menino Asato, que é adotado pelo casal que, incentivados pela agência, conhece Hikari, que lhes entrega uma carta, para seu filho. Seis anos mais tarde, uma moça dizendo ser Hikari pede para que os Kurihara devolvam Asato para ela ou que a paguem.

É a partir desse momento que podemos dizer que o filme realmente começa. O estilo do filme é bem oriental, em um passo mais devagar contando a história em mais de 2 horas, através não só de diálogos mas também de uma belíssima fotografia que mostra um Japão mais natural e menos cheio de prédios e modernidades, dando bastante tempo para introspecção. O filme utiliza-se também da paisagem mudando conforme as estações do ano para como ferramenta para ajudar a contar a história. Em uma cena lindíssima, Sakuras, as famosas flores de cerejeira, são uma forma de mostrar a inocência do primeiro amor de Hikari na cidade de Nara.

Entretanto, apesar de ser um filme muito bonito, com um respeito pelas mulheres e tratado com uma delicadeza suprema, ele me incomodou. A questão de não poder ter filhos, de ter que escolher entre trabalhar e ser mãe, como a maternidade é colocada – estou lendo o livro “Pequenos Incêndios por toda parte” que virou uma série homônima na Amazon Prime Video que também trás a tona o assunto maternidade – despertou em mim o sentimento de me colocar no lugar da mãe adotiva. E se fosse eu? E se 6 anos depois a mãe biológica quisesse levar embora a criança que EU CRIEI como minha? E será que conseguiria ser tão aberta a ponto de conhecer a mãe biológica de meu bebê? Algumas questões vão além, no filme o casal antes pensa em fazer uma cirurgia para engravidar, para o marido é importante que o filho seja biologicamente seu, mas como seria se ela não pudesse ter filhos? É difícil quando você entra na idade onde a sociedade, ocidental inclusive, começa a lhe cobrar que seu relógio biológico está passando e que você deve ter um filho, afinal depois o resto se ajeita. Mas qual o momento certo para trazer uma criança ao mundo?

Apesar de achar o filme lindo, a história mexeu pessoalmente comigo um pouco mais do que deveria e me tornou um tanto quanto imparcial. Recomendo o filme para as pessoas que estão acostumadas com filmes japoneses por ser um filme mais longo e com um ritmo diferente.

Mas quero deixar uma pergunta: como vocês reagiriam se após 6 anos de devoção a uma criança, a mãe biológica a quisesse de volta? Deixem seus comentários e não esqueçam de se inscrever no nosso Instagram também para estar sempre por dentro das novidades. E não esqueça: a 44ª. Mostra está apenas na esquenta, em breve mais informações.

 

Beijos!

 

 

9 comentários

  1. Essa é uma questão muito complicada. Não sabia que no Japão, como nos EUA, os pais biológicos pudessem pedir de volta a criança que foi dada aos pais adotivos. Esse é o motivo, inclusive, porque muitos casais americanos recorrem à adoção internacional. Ainda bem que isso não é possível aqui no Brasil.
    A respeito do filme, fiquei realmente interessada.

    1. Eu não sei se a lei no Japão funciona realmente assim, ou se a mãe tenta uma chantagem, vou até procurar! Mas de um jeito ou de outro eu entendo os americanos: confesso que não me sentiria nada a vontade de “devolver” o meu filho só por não ter sido gerado em meu ventre.
      É o eterno discurso entre o que é biológico e o que é social, e pela minha experiência com adoção, pai ou mãe é quem cuida, cria e ama! A adoção não deve ser escondida da criança pois para mim é um ato de amor imenso e que mostra para a criança que ela foi ESCOLHIDA e ACEITA, ao invés de ficarem só os possíveis traumas de abandono que a sociedade muitas vezes tenta colocar na situação.

      Beijão!

  2. O aspecto da adoção é complicado demais para uma solução única
    Talvez a solução fosse as duas mães, ambas mães “verdadeiras” tivessem direito a convívio com o filho. O que não é justo nunca é a criança sofrer

  3. O aspecto da adoção é complicado demais para uma solução única
    Talvez a solução fosse as duas mães, ambas mães “verdadeiras” tivessem direito a convívio com o filho. O que não é justo nunca é a criança sofrer

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.