O Charlatão

Baseado em uma peça e dirigido por Agnieszka Holland, “O Charlatão” conta a história de Jan Mikolasek, um herbalista e curandeiro tcheco, que conseguiu a façanha de sobreviver a duas guerras e ao regime totalitário soviético.

Jan, era filho de jardineiros, e após tentar se matar durante a 1a. GM, retorna para casa com o ombro machucado. Ele passa a ajudar a família, especialmente cuidando das plantas em casa, onde aprende sobre elas. Entretanto um belo dia, ele resolve passar um emplastro na sua irmã que estava para ter sua perna amputada, e quando ela aparece quase curada na frente dos médicos, Jan decide que tem mãos capazes de curar.

O filme na verdade começa com a morte do Presidente Zápotocky em 1957, quando Jan já é reconhecido como Curandeiro por várias pessoas, inclusive pelo próprio Zápotocky, que se tratou com ele. A forma como Jan avalia os pacientes me lembra muito o jeito com os quais alguns médicos, ou “proto-médicos” (antes das faculdades de medicina) examinavam as pessoas, que é através da urina do paciente. Mas Jan, como era um ser humano horrível, não estava interessado verdadeiramente nos doentes, ele apenas analisa a urina e combinada com a idade e o sexo do paciente, ele dizia qual o problema e mandava que as pessoas comprassem uma das suas fórmulas, que não eram preparadas especialmente para cada caso mas sim previamente preparadas em massa. Por exemplo se você sofria de problemas renais deveria tomar a fórmula 6, se o caso era ginecológico a 2 seria a certa para você.

Deixando bem claro, a análise da urina sempre foi um método eficiente para avaliar os possíveis males que afligem uma pessoa. O meu problema com Jan, é que ele realmente parece não se importar com as pessoas ou com o que elas estão sentindo. E cedo no filme descobrimos que além de covarde, ele é uma pessoa ruim, má, que beira a psicopatia e extremamente egocêntrico. Falo isso pois quase larguei o filme no meio quando o jovem Jan, que na época estudava com outra herbalista, resolve um “problema” de forma violenta e parece sentir prazer nisso – não vou entrar em detalhes mas o caso é de violência com animais e me fez realmente pensar se eu deveria ou não continuar assistindo ao filme.

E se quiserem me julgar, ok, mas eu continuei assistindo esperando algum sinal de redenção do personagem, mas a história acabou e eu só consegui ter mais ódio de Jan.

O que me deixou extremamente intrigada é que Agnieszka concorreu ao Oscar por melhor película não americana em 2011 com “Na Escuridão”, além de já ter sido premiada em outras ocasiões por outros filmes que me pareceram muito mais interessantes. E, mais intrigante, é que “O Charlatão” é o filme que a Polônia escolheu como seu indicado ao Oscar de 2021. Acredito que só possa ter sido intencional e com intenção de desmistificar Jan, como antes outros já fizeram. Afinal, o culto a personalidade como o “Curandeiro”, alguém que era quase mágico, místico, com uma personalidade intragável e que se aproveitou tanto dos governos nazista, quanto soviético, muitas vezes precisa ser colocado embaixo de uma lente para que todos possam compreender que Jan não era um santo.

Aliás o final do filme deixa isso bem claro, quando acusado de envenenar dois membros do Partido, ele acusa o seu ajudante que aparentemente o serviu por uns 20 anos sem nenhum remorso. Mesmo que esse fosse seu amante e proibido de visitar a esposa que já tinha quando conheceu Jan. Frantisek Palko, o ajudante, inclusive tira da esposa a única coisa que ela realmente desejava: um filho. Sim, ao descobrir que a esposa de Palko está grávida, Jan manda que Palko dê ervas abortivas à ela por ciúmes, e apesar das súplicas de realizar o sonho da mulher, Frantisek acaba realizando a vontade do chefe, mostrando que um lado doentio da relação de ambos, uma dependência e submissão nada saudáveis em uma relação que deveria ser amorosa.

E é nesse julgamento, no fim do filme onde Jan demonstra o seu total descaso pelo o outro: ele acusa Palko de ser o responsável e tenta se livrar de qualquer responsabilidade. Mesmo que ambos fossem inocentes, apenas um deles parece culpado.

Eu não me interessei por saber o que aconteceu com o Charlatão, mas acredito que tenha conseguido se livrar pois morreu apenas em 1973, aos 84 anos, muitos tempo após a morte de Zápotocky. Aparentemente existem algumas pessoas acusando o filme se desviar  da verdadeira história de Mikolasek, mas eu estou aqui julgando o personagem que conheci no filme, e por melhor que o filme possa ser tecnicamente, para mim foi uma grande decepção em relação ao homem que é “homenageado” no mesmo.

Se por acaso, apesar da minha revolta, a curiosidade ou o assunto pareceram interessantes, “O Charlatão” está disponível para locação por R$6 na Mostra SP.

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Beijos!

4 comentários

  1. Por causa da sua revolta fui ler sobre o Mikolasek, que como todos os seres humanos não é 100% mau e nem 100% bom, causando até hoje muita controvérsia na República Tcheca. Principalmente por causa da morte do Zapotocky, que o fez ser preso pelo regime comunista, servindo pena de 1959 até 1963, aparentemente, quando parou de “clinicar” e ficou assim até sua morte em 1973. Segue o link de um dos poucos artigos em inglês que eu achei sobre ele, a maioria era em tcheco compreensivelmente: http://magicbohemia.magic-realist.com/2020/09/02/jan-mikolasek-the-herbal-healer-behind-the-film-charlatan/.
    Vou ver o filme para entender sua revolta sobre o personagem.

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