O Problema de Nascer

O Problema de Nascer (The Trouble With Being Born) causou controversa. A minha começa com a tradução do título: “O Problema de Nascer” não parece focar na profundidade dos tópicos tratados no longa. Infelizmente eu não consigo pensar em um nome melhor para o filme alemão, mas talvez algo como “O problema de ter nascido”, “O problema de estar vivo”, enfim não consigo refletir a complexidade do filme no título.

A história, uma ficção científica dramática, foi escrita e dirigida pela cineasta Sandra Wollner. E na tentativa de contar sua história de uma forma mais poética, Wollner acabou esbarrando em interpretações diferentes do que o que ela imaginava para a história. Por algumas razões, as cenas entre o Pai e Ellie, uma criança de 10 anos de idade, passaram do bom gosto para alguns e foram vistas como um incentivo não só à pedofilia, mas também como uma forma de incentivo à idéia de usar rôbos como forma legal de praticar atos sexuais com menores. Existe toda uma questão sobre “andróides” para uso sexual, e que estariam agora aproveitando da idéia de usar “não humanos” para praticar perversões. A respeito desse assunto eu vou deixar aqui dois artigos em inglês (gente usem o tradutor do Google se precisarem de ajuda) pois não me considero a pessoa certa para tratar do assunto. O primeiro é uma crítica da revista Variety e o segundo é sobre a polêmica do filme no Festival de Melbourne, onde a exibição do mesmo foi proibida.

Entretanto, de acordo com a diretora seu plano era criar uma fábula que fosse a antítese de Pinóquio: sim, Ellie a menina de 10 anos e mora com o pai é na verdade um andróide criada para tentar aliviar a solidão dele. Apesar de máquinas serem imperfeitas e Ellie ainda estar em evolução, ela é uma Inteligência Artificial e por consequência aprende, evolui e até perde o controle as vezes, precisando ser reiniciada e sofrer manutenção. E o pai, que mora em um lugar idílico, parece não se importar com sua forma nesses momentos tratando Ellie como a máquina que é. Mas a verdade é que quando entramos na relação cotidiana dos dois temos mostras de como Ellie tem uma importância para o pai e como ele também tem essa importância para Ellie que tentar “cuidar” dele. O problema é Ellie é limitada, ela tem partes da memória de sua “dona”, a verdadeira filha que morreu 10 anos antes, e muitas vezes não se lembra de toda a história.

Um ponto fundamental e que mexeu muito com as minhas emoções, especialmente nessa época complicada, foi como Sandra usou de mais poesia para mostrar uma história que já foi contada antes no cinema por ninguém mais e ninguém menos que a dupla Spielberg e Kubrick em “AI”. Mas no fundo as questões iniciais do filme são as mesmas: nós humanos temos dificuldade de lidar com a perda e a solidão. No caso de “O Problema de Nascer”, Ellie é uma versão da filha que morreu durante o conflito em Belgrado, na Sérvia, mas uma versão que aparenta ser perfeita mas é imperfeita e incapaz de conhecer ou absorver todos os detalhes de um ser humano.

E a história não para aí, em uma mudança inesperada, Ellie de repente passa a ser Emil, um menino que morreu 60 anos antes e que é uma forma de consolar a sua irmã Anna, uma senhora de uns 75 anos, que não conseguiu fazer as pazes com a morte do irmão.

Apesar das polêmicas que coloquei aqui nos textos, o filme foi um dos mais interessantes que assisti na Mostra. As questões da solidão humana são um assunto que estão cada vez mais sendo discutidas, e como o ser humano lida com seus sentimentos de tristeza, angústia, melancolia e até a mais profunda perda: o luto. Acho que o filme não poderia ser mais atual se enxergarmos através dessa lente o conto criado por Sandra.

Mas óbvio que quero saber a opinião de vocês? O que acharam do filme? Lembrando que a Mostra está em cartaz até dia 04/11, ou seja, por R$6 você pode alugar diversos filmes. E não deixem de nos seguir no Instagram onde as notícias saem primeiro.

 

Beijos!

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