Viver para cantar é um filme interessante que trata sobre as questões de uma China Tradicional vs uma China Moderna, que está se reinventado. A China é um país que apesar de hoje ser conhecido por toda a sua modernidade, sabemos também que tem uma forte instituição tradicional. Uma das tradições mais antigas, que surgiu em uns 1000 anos atrás, e atingiu sua maturidade no século XIII durante a dinastia Song foi a Ópera. A diferença desse tipo de Ópera é que ela incorporou não só a música, a dança e o canto, mas também outras formas de arte como as artes marciais, acrobatas, figurinos bem trabalhados, maquiagens elaboradas e outras formas já conhecidas e usadas nas Óperas Chinesas.
Em Viver para Cantar, o diretor chinês Ma Nan, conta a história de Zhao Li e sua pequena trupe de artistas que são especialistas no estilo de Ópera Chinesa conhecido como Ópera Sichuan, originada em torno de 1700, na província de Sichuan. Apesar de ainda ser considerada um dos estilos operáticos, mais influentes nas Óperas Chinesas, com a modernização da China cada vez mais esse estilo de arte está desaparecendo. E talvez seja por isso que Ma Nan, resolveu contar a história de Zhao Li. Ele conta que a primeira vez que soube da pequena trupe foi em 2013 em um documentário local.
Johnny Ma, como é conhecido hoje Ma Nan, disse ter ficado encantado com aquelas imagens lindíssimas e claro, com a oportunidade de mostrar como a China Nova está destruindo algumas tradições importantes da China Antiga. E Viver para Cantar é um tributo a essa questão que ocorre não só na China, de destruir o velho para trazer o novo.
Zhao Li, a diretora da Ópera, sobrevive com sua trupe e fica claro que com a gentrificação da China, está cada vez mais difícil arrumar um Teatro para se apresentar. O conflito entre o tradicional e o novo é muito bem explorado na relação dela com sua sobrinha Dan Dan, que preferiria um estilo mais moderno para a Trupe de sua Tia. Dan Dan é a cantora principal, a mocinha e por interpretar papéis importantes, é cobrada em excesso por Zhao.
A Ópera Sichuan é bem caracterizada e normalmente expõe histórias da própria China, começando com a Saga dos Três Reinos e passando por dinastias como Ming, Tang e Quing, também. Normalmente os artistas misturam os estilos em figurinos deslumbrantes, maquiagens elaboradas com mudanças de máscaras durante a apresentação e claro, coreografias que são inspiradas em uma dança com armas, o que aproxima o desenvolvimento das lutas marciais para uma forma mais artística do que estamos acostumados no Ocidente. E nessa parte o filme acerta a mão perfeitamente! É encantadora as cenas com as danças e “lutas”, além dos figurinos primorosos, o que obviamente mais me atraiu.
Entretanto Viver para Cantar tem um pequeno grande defeito: é um filme de quase duas horas sobre um estilo muito específico de Ópera Chinesa. Apesar da Ópera Sichuan ser considerada um patrimônio por sua forma peculiar de canto, é possível entender o motivo pelo qual ela perde espaço para a Ópera de Beijing, que é menos rebuscada e com sons menos específicos.
Achei interessante conhecer o estilo, mas confesso que duas horas foram um pouco excessivas para mim. Sinceramente o estilo mais agudo e anasalado, não é tanto a MINHA praia, pessoalmente, e acredito que o filme poderia ser ainda mais interessante se fosse reeditado para uma versão mais acessível para o público que não é acostumado com o estilo. Mas as apresentações são lindas de se ver, apesar da dificuldade de talvez aprecia-las pelo canto musical não soa familiar aos nossos ouvidos ocidentais.
Para quem tem curiosidade sobre a visão romântica de Johnny Ma da Ópera Sichuan de Zhao Li, o filme vale a pena. Uma das minhas partes preferidas, inclusive, é o final que é imaginado, ou seja, onde somos transportados para o espetáculo e o encontro das mais incríveis fantasias desse estilo de Ópera nos é apresentado em uma cena.
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Beijos!
PS: O filme estreou nas cidades onde os prefeitos permitiram que as salas de cinema fossem abertas. A decisão sobre o assunto é municipal e também pessoal. Não acho que o momento para opinar sobre a opinião PESSOAL de ir ao cinema é minha. Entretanto, se decidir confira se o cinema está cumprindo as regras colocadas, e faça você também a sua parte para todos ficarmos seguros! E imagino que em breve, Viver para Cantar estará disponível em algum dos diversos canais de streaming para ser alugado. Pessoalmente eu assisti através de streaming e acredito que foi a melhor experiência para o MEU caso. =)
É sempre bem saber sobre culturas diferentes
Que legal! Quero ver!
A China sempre me fascinou, mas a música nem tanto. Gosto do cinema, até dos filmes de “chinezinhos voadores”, os de artes marciais
Vou tentar assistir e depois comento